As tarefas do luto de Worden —

Você já conhece os estágios do luto, com certeza. Mas será que já ouviu falar sobre o que Worden (1998) chama de tarefas do luto? Além de passar pelos estágios do luto, que são: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação (não sendo estes estágios sempre vividos nesta ordem), todos devemos passar por quatro tarefas, que nos auxiliam em meio aos estágios que passamos, para conseguir ressignificar a vida.

A ressignificação é muito importante, pois assim conseguimos dar um novo sentido à vida, voltamos a ver valor em nós mesmos, achamos um novo (ou renovamos o que já é presente) propósito, reconfiguramos papeis que exercemos dentro de todas as nossas relações e aceitamos a nova realidade. Uma realidade que não será mais a mesma, e que continua tendo seu devido valor.

Estas tarefas são:
# Tarefa I: aceitar a realidade da perda.
# Tarefa II: elaborar a dor da perda.
# Tarefa III: ajustar-se a um ambiente onde está faltando a pessoa que faleceu.
#Tarefa IV: reposicionar em termos emocionais a pessoa que faleceu e continuar a vida.

A primeira tarefa (aceitação da perda da realidade) fala sobre a sensação de que uma morte não aconteceu, e se trata exatamente do processo de reconhece-la. É preciso que a pessoa entenda que a reunião com seu ente querido é impossível, apesar da busca incessante que se instala num primeiro momento. Esta busca, no entanto, serve exatamente para que o reconhecimento da morte e sua aceitação possam acontecer, pois precisamos viver nossos sofrimentos, por mais intensos que sejam, para conseguirmos elaborá-lo.

A negação é um comportamento muito comum em meio à aceitação desta realidade. Afinal, existem diversas maneiras de se proteger da realidade difícil que nos acontece nestas situações, como, por exemplo, por meio de processos de mumificação (em que se mantém pessoas falecidas durante alguns dias ou semanas por perto antes de notificar qualquer autoridade). Algumas pessoas também não conseguem comparecer a enterros, bloqueiam certas memórias (na maioria das vezes, inconscientemente) e isto faz com que seja mais fácil negar o significado da perda, assim como sua realidade.

É normal que as pessoas neguem o que está acontecendo num primeiro momento, mas se a negação persistir por muito tempo, pode fazer com que uma pessoa não consiga concluir a primeira tarefa. E isto leva a um provável processo de luto complicado, que é o termo usado para dizer que ele é patológico (não saudável).

A segunda tarefa do luto (elaboração da dor da perda) fala sobre dores físicas e emocionais enfrentadas por pessoas enlutadas. Em razão da perda de uma pessoa amada, estas dores podem aparecer como consequência e, se não forem trabalhadas, podem fazer com que sintomas de diferentes ordens levem a comportamentos que demonstram conduta aberrante (conduta que contraria a lógica dos acontecimentos).

Ninguém vivencia estas tarefas da mesma maneira. Fique atento, seja você um profissional da psicologia ou não, ao acolhimento humanizado que é necessário oferecer. 

Sentimentos ambíguos podem ser vivenciados em meio a esta tarefa, já que as pessoas podem perceber uma postura da sociedade que comunica que elas não precisam e/ou não devem vivenciar este luto. Este processo, afinal, carrega o estigma de algo desmoralizante. Isto pode fazer com que estas pessoas tentem fervorosamente não sentir emoções, processo em que evitam os pensamentos ligados ao sofrimento da perda, substituindo-os por lembranças que tragam momentos mais prazerosos. — É possível que se manifeste até mesmo uma fuga geográfica, em que há tentativa de viajar para outros lugares com o intuito de aliviar a intensidade do sofrimento e elaborar o fato de que, um dia, isso tudo “vai passar”.

A terceira tarefa (ajuste a um ambiente onde está faltando a pessoa que faleceu) é vivida por pessoas de acordo com o papel que os falecidos desempenhavam em suas vidas. A relação que se tinha com o falecido também faz diferença, visto que um filho precisa se acostumar com a falta do pai, atividades que fazia com ele, enquanto uma esposa que perde o companheiro precisa se acostumar também com a diferente forma com que sua ausência se manifesta em sua vida, assim como tem que reaprender sua rotina do dia a dia e como dar seguimento à chefia da casa, por exemplo. 

Além disso, existem novos papéis que podem passar a ser exercidos com a perda de entes queridos, e o desenvolvimento destas novas habilidades passa por processos diferentes em razão do enlutamento, assim como o novo sentido de self. — Nunca mais seremos a mesma pessoa depois de sofrer uma perda significativa, e voltar a se sentir você mesmo, de forma diferente, ressignificada, é importante para voltar a ver valor não só em sua vida, como em você mesmo.

A quarta tarefa (reposicionamento em termos emocionais da pessoa que faleceu e continuidade da vida) fala sobre o término do luto, que acontece quando a pessoa não sente mais a necessidade de reativar/viver a representação do falecido com intensidade exacerbada na vida diária. É claro que não se pode esperar que alguém esqueça completamente a pessoa perdida, seu afeto ou memórias que possui com ela, mas existe um redirecionamento de seus sentimentos quanto ao processo de resolução do luto.

Enquanto coadjuvantes, sendo psicólogos ou não, quem está próximo se encontra no papel de ajudar pessoas enlutadas a construir um espaço para as pessoas que perderam de forma que este não limite a continuidade de suas próprias vidas (inegável que fazer isto com a ajuda de um profissional pode acontecer com mais facilidade). Outras relações continuam, novas relações aparecem, e a ressignificação do eu no mundo continua eternamente, ainda que seja um processo mais difícil quando uma perda acontece.

Caso você esteja experienciando uma perda neste momento, entre em contato com pessoas próximas, entre em contato com um profissional psicólogo, pois a rede de apoio ao nosso redor se faz de extrema importância para conseguirmos passar por isto.

AUTOR: JULIANA SANTANA RODRIGUES – CRP 06/145576.
TEXTO ESCRITO COM O INTUITO DE SER ACESSÍVEL, NÃO UTILIZANDO MUITA LINGUAGEM ACADÊMICA.
FONTE: WORDEN, J.W. TERAPIA DO LUTO. ED. ARTES MEDICAS: PORTO ALEGRE, 1998.