Muitas pessoas confundem, né? É difícil não confundir, na verdade.
Qualquer evento inesperado pode nos abalar bastante… a ponto de nos deixar afetados durante um longo período de tempo. Isso quer dizer que, se passamos por isso, automaticamente estamos com depressão? Isso passa? Depressão passa? Como vou saber se estou só triste então?
Vou começar com definição e dar mais detalhes.
“O termo depressão, na linguagem corrente, tem sido empregado para designar tanto um estado afetivo normal (a tristeza), quanto um sintoma, uma síndrome e uma (ou várias) doença(s).
Os sentimentos de tristeza e alegria colorem o fundo afetivo da vida psíquica normal. A tristeza constitui-se na resposta humana universal às situações de perda, derrota, desapontamento e outras adversidades. Cumpre lembrar que essa resposta tem valor adaptativo, do ponto de vista evolucionário, uma vez que, através do retraimento, poupa energia e recursos para o futuro. Por outro lado, constitui-se em sinal de alerta, para os demais, de que a pessoa está precisando de companhia e ajuda. As reações de luto, que se estabelecem em resposta à perda de pessoas queridas, caracterizam-se pelo sentimento de profunda tristeza, exacerbação da atividade simpática e inquietude. As reações de luto normal podem estender-se até por um ou dois anos, devendo ser diferenciadas dos quadros depressivos propriamente ditos. No luto normal a pessoa usualmente preserva certos interesses e reage positivamente ao ambiente, quando devidamente estimulada. Não se observa, no luto, a inibição psicomotora característica dos estados melancólicos. Os sentimentos de culpa, no luto, limitam-se a não ter feito todo o possível para auxiliar a pessoa que morreu; outras idéias de culpa estão geralmente ausentes.
Enquanto sintoma, a depressão pode surgir nos mais variados quadros clínicos, entre os quais: transtorno de estresse pós-traumático, demência, esquizofrenia, alcoolismo, doenças clínicas, etc. Pode ainda ocorrer como resposta a situações estressantes, ou a circunstâncias sociais e econômicas adversas.
Enquanto síndrome, a depressão inclui não apenas alterações do humor (tristeza, irritabilidade, falta da capacidade de sentir prazer, apatia), mas também uma gama de outros aspectos, incluindo alterações cognitivas, psicomotoras e vegetativas (sono, apetite).
Finalmente, enquanto doença, a depressão tem sido classificada de várias formas, na dependência do período histórico, da preferência dos autores e do ponto de vista adotado. Entre os quadros mencionados na literatura atual encontram-se: transtorno depressivo maior, melancolia, distimia, depressão integrante do transtorno bipolar tipos I e II, depressão como parte da ciclotimia, etc.” (DEL PORTO, J.A.; 1999)
Beleza, o que aprendemos com esse trecho?
Primeiro, que depressão é diferente de luto/tristeza. Segundo, que tristeza/luto, dependendo de sua causa, pode durar até mesmo dois anos. O sentimento de culpa que se apresenta neste quadro acontece porque a pessoa sente que deveria ou poderia ter feito mais por um ente querido. Raramente refere-se a si mesmo. Terceiro, que tristeza é uma emoção que faz parte da vida de qualquer pessoa, então é completamente normal que qualquer um a sinta. Mesmo que seja por um período mais prolongado de tempo.
Quarto, que depressão geralmente se apresenta junto com outros quadros clínicos, como esquizofrenia, TEPT, demência, entre outros. Mas ela não deve ser diminuída ou descreditada se qualquer desses quadros não se apresentar. Quinto, que depressão apresenta não só alteração de humor (tristeza e apatia, por exemplo), como também alterações cognitivas, psicomotoras e vegetativas (alteração do sono e apetite, por exemplo). A seguir, é possível saber mais sobre estas últimas mudanças.
“A presença de depressão piora diversos fatores relacionados à saúde em pacientes clínicos. Estudos recentes descreveram maior mortalidade associada a sintomas depressivos em pacientes idosos com doenças clínicas crônicas (Cooper et al., 2002; Unützer et al., 2002). Pacientes com doenças clínicas e depressão têm maior risco de não aderirem às recomendações médicas (Dimatteo et al., 2000). Depressão e ansiedade parecem aumentar a percepção de sintomas físicos inexplicáveis (Katon et al., 2001). A presença do diagnóstico de depressão maior ou transtorno bipolar triplica os custos médicos (Kupfer e Frank, 2003). A presença de comorbidades clínicas com transtornos depressivo-ansiosos aumenta mais dias de incapacitação do que a soma dos efeitos individuais das doenças clínicas (Kessler et al., 2001). O custo médico em serviços primários é maior na comorbidade entre depressão e doenças clínicas, apesar deste aumento não ser devido exclusivamente à presença do quadro depressivo (Chisholm et al., 2003). Por outro lado, o tratamento bem-sucedido da depressão nos pacientes deprimidos de alto custo diminui dias de incapacitação (Von Korff et al., 1992).”
Algo muito construtivo que muitas páginas fazem hoje em dia é a divulgação de pequenos flyers que mostram, em tópicos, quais sintomas podem aparecer numa depressão, que não são muito comuns num quadro de tristeza/luto. Estes flyers são minimalistas, bem simples, pois precisam possibilitar que qualquer pessoa possa identificar o seu conteúdo. Pra você ter uma ideia, dá uma olhada nesses aqui:
Interessante, certo?
Hoje em dia, artistas independentes exercem um papel muito importante na propagação dessas informações. Além de fazerem as devidas pesquisas, são eles que traduzem tudo isso pra uma linguagem mais fácil, assim ninguém deixa de entender. Porque depressão não é coisa de rico, de pobre, de qualquer classe socioeconômica, ela pode atingir quem for por diversos motivos e, de vez em quando, nem sempre tem uma razão específica. De qualquer jeito, ela não pode ser desvalorizada de maneira alguma!
E, se você tá sentindo alguma coisa relacionada a isso, infelizmente, os flyers não são suficientes, então faça sua pesquisa, ok!? Isso é muito importante.
Aqui estão diferentes tipos de sintomas que você pode notar; eles também podem te ajudar a definir isso pra um profissional, quando você já estiver em atendimento… aliás, óbvio que vocês sabem que TEM que procurar um psicólogo, né!? hahaha
Sintomas psíquicos
1. Humor depressivo: sensação de tristeza, autodesvalorização e sentimentos de culpa.
2. Redução da capacidade de experimentar prazer na maior parte das atividades, antes consideradas como agradáveis.
3. Fadiga ou sensação de perda de energia.
4. Diminuição da capacidade de pensar, de se concentrar ou
de tomar decisões.
Sintomas fisiológicos
1. Alterações do sono (mais freqüentemente insônia, podendo ocorrer também hipersonolência).
2. Alterações do apetite (mais comumente perda do apetite, podendo ocorrer também aumento do apetite).
3. Redução do interesse sexual.
Evidências comportamentais
1. Retraimento social.
2. Crises de choro.
3. Comportamentos suicidas.
4. Retardo psicomotor e lentificação generalizada, ou agitação
psicomotora (geralmente, as pessoas comentam sobre o peso que carregam nos ombros ou em qualquer outro membro do corpo).
Enfim… sei que falei muito mais sobre depressão do que de tristeza. Mas o que é possível identificar sobre a tristeza, é que geralmente está ligada especificamente a uma situação passada por qualquer pessoa, como a perda de um ente querido, um término de namoro, perda de emprego, além de situações adversas no ambiente de trabalho, briga com um familiar ou pessoa próxima, entre outras. A depressão é uma doença, que tem sintomas padronizados, que ajudam a estabelecer um diagnóstico, além de ter um tratamento específicos e profissionais capacitados com o conhecimento necessário pra ajudar pessoas que precisam.
Pra concluir e reforçar: entendemos que a tristeza é algo natural do ser humano, por tanto não existe tratamento a ela, pois ela não é doença. Com a depressão, a história é diferente. Precisa de tratamento e é imprescindível que o profissional da psicologia esteja envolvido.
Caso você identifique um ou mais sintomas de depressão em você mesmo ou em alguém que você conhece, procure um profissional!
AUTOR: JULIANA SANTANA RODRIGUES – CRP 06/145576.
TEXTO ESCRITO COM O INTUITO DE SER ACESSÍVEL, NÃO UTILIZANDO MUITA LINGUAGEM ACADÊMICA.
FONTES: “Conceito e diagnóstico“, “Depressão e comorbidades clínicas“.
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