O caminho até o CRP –

Se tem uma coisa que não é ensinada em momento algum na faculdade, essa coisa é como divulgar atendimentos em Psicologia.  Os alunos pegam o diploma providos de conhecimento, uma bela parcela de prática e ideia nenhuma de como começar a fazer esse negócio de ser psicólogo sozinho. O jeito que eu achei foi o de falar como eu cheguei até aqui. E eu sei que vou apagar e reescrever muitas coisas, mas espero que o resultado final faça você pensar que um psicólogo não te acha doido. Esse profissional só quer ajudar mesmo.

Me formei na Universidade Presbiteriana Mackenzie em 2017, e não sabia direito o que eu queria até o terceiro ano da faculdade. Eu sabia que estava no curso certo, mas não tinha ideia de qual vertente queria seguir. Psicanálise, Psicologia Junguiana, Análise do Comportamento…? Enfim, são muitas opções. Aí eu encontrei a Gestalt-terapia e o Psicodrama logo em seguida, no quarto ano do curso, e foi amor à primeira leitura, porque eu acho que Fritz Perls e Jacob Levy Moreno construíram vertentes que se completam. A Gestalt-terapia é uma linha humanista, que usa da fenomenologia existencial, que vê a mudança e desenvolvimento das pessoas como algo que acontece de dentro pra fora, e o Psicodrama vê exatamente o contrário, vê que as coisas precisam acontecer e nos impactar pra ver o que vamos transformar em potência com isso. Beleza, minha primeira preocupação se foi.

Depois dessa escolha, surgiram os interesses mais afunilados, que são depressão, ansiedade, bipolaridade, suicídio, mulheres e população LGBTQIA+. No último ano de faculdade, pude estagiar atendendo mulheres e adolescentes em N tipos de situação de vulnerabilidade numa região periférica de São Paulo, sendo a violência doméstica a mais recorrente. Estes atendimentos me mostraram meus limites e minhas potencialidades, junto com a minha supervisora, que foi essencial pra me manter focada, porque estudante quer abraçar o mundo… só não tem noção de que os braços ainda estão curtos demais pra querer fazer isso e assumir mais responsabilidade do que realmente aguenta.

Além dos atendimentos obrigatórios pra concluir o curso, todo estudante tem que fazer um TCC, né não?! E eu quis me envolver com o tema suicídio na adolescência, então fiz uma análise reflexiva sobre suicídio na adolescência a partir da série 13 Reasons Why. O resultado foi ótimo, me senti realizada quando entreguei tudo (UFA!), e devo agradecer à professora Karina Okajima Fukumitsu por ter me mostrado que este tema pode ser debatido de forma profissional e responsável, com o intuito de entender e validar este tipo de sofrimento, que não é brincadeira e é muito presente atualmente.

Escrever sobre tudo isso faz a jornada parecer mais fácil do que realmente é. Cinco anos é bastante tempo, e posso dizer que mais do que suficiente pra transformar a forma como eu via o mundo, como eu me coloco nele. E tenho certeza de que isso vai continuar mudando, porque não paramos de estudar depois da faculdade, certo? Mesmo que as pessoas parem pra ter um tempo pra respirar, as buscas continuam, os interesses vão ficando ainda mais específicos, e todas as necessidades (existenciais e burocráticas) continuam aparecendo. Terminar o curso de Psicologia parece o grande objetivo, o grande fim, mas é apenas o começo de uma jornada mais específica de autoconhecimento.

Eu poderia continuar falando sobre os cursos que fiz, sobre as dificuldades que passei, sobre a terapia que fiz durante meu curso, que foi importante pra me manter nos eixos, mas esse blog não foi criado com o intuito de exaltar meu currículo, que nem é longo, ou falar que profissional fantástica eu quero ser. Nem sempre vocês vão ver linguagem formal ou português corretíssimo, porque… é mais importante ser acessível ou ser acadêmica? Acho que já dá pra saber qual é a resposta que eu dou pra essa pergunta.
Se você se interessa em começar a se atender com um psicólogo, essa é uma prévia que pode ser dada logo de primeira. Não somos profissionais inacessíveis, donos de um certo tipo de conhecimento que parece ser inalcançável. Não existe um padrão de psicólogo, somos todos muito plurais também.

Fazemos parte do primeiro passo que você pode dar pra começar a se entender melhor.

AUTOR: JULIANA SANTANA RODRIGUES – CRP 06/145576.